Mulheres que atuam no agronegócio representam 40% no setor

A relevância econômica das mulheres do agronegócio está cada vez mais presente mas a gestão do patrimônio ainda é pouco explorada pelas instituições financeiras

Recente pesquisa realizada pela ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) apontou que as mulheres que atuam no agronegócio são responsáveis pela gestão de, no mínimo, 30% do segmento. Tendo em vista que o Agronegócio representa 25% do PIB, as mulheres desse setor da economia são responsáveis pela gestão de pelo menos 8% do PIB nacional, algo em torno de US$ 165 bilhões.

Segundo um estudo realizado pelos pesquisadores do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da ESALQ/USP, nos últimos anos houve um aumento do número total de mulheres trabalhando no agronegócio em 8,3%. Diante desse cenário, a participação da mulher no mercado de trabalho do agronegócio cresceu consistentemente entre 2004 e 2015, passando de 24,11% para 27,97%. Já o número de homens atuando no setor diminuiu 11,6%.

É importante destacar que o aumento da participação feminina no agronegócio ocorreu na categoria de empregadas com carteira assinada, entre 2009 e 2013, principalmente entre 2009 e 2013. Essa informação é de extrema relevância em função do perfil do agronegócio, marcado por um nível de informalidade mais alto que o médio da economia.

“Apesar da informalidade do setor, percebemos que a cada dia as mulheres buscam melhorar sua qualificação profissional, através de cursos, palestras e troca de informações com outras mulheres do setor. Em minhas palestras e consultorias pelo país, percebo uma preocupação muito maior pela busca de aprendizado e qualificação”, declara Vanessa Sabioni, fundadora da rede AgroMulher, engenheira agrônoma e Mestre em Fitopatologia.

Outro fator bastante relevante está relacionado às características socioeconômicas das mulheres do agro. “Este estudo apontou que o aumento da participação feminina no setor foi impulsionado por trabalhadoras com um maior nível de educação formal, o que indica uma evolução atrelada a empregos que demandam maior qualificação”, esclarece Débora Toledo, economista na AMG Capital e mentora de projetos econômicos da rede AgroMulher.

Para segmentar a cadeia produtiva do agronegócio é utilizada a classificação antes, dentro e depois da porteira. “A expressão ‘antes da porteira’ refere-se a tudo que é necessário à produção agrícola, mas não está na fazenda. É aquilo que o produtor rural precisa comprar para produzir: todos os insumos, máquinas, defensivos químicos, fertilizantes, sementes, frota, por exemplo”, esclarece Vanessa Sabioni.

Já o termo ‘dentro da porteira’ refere-se à produção, como plantio, manejo, colheita, beneficiamento, manutenção de máquinas, armazenamento dos insumos, descarte de embalagens de agrotóxicos e mão de obra. Enquanto que ‘depois da porteira’ faz referência à armazenagem e distribuição, incluindo a logística.

Sabe-se que 73% das mulheres do agronegócio atuam dentro da porteira, sendo 58% das mulheres proprietárias ou sócia das propriedades, representando algo em torno de 4,5 % do PIB.

“Dessa forma, podemos concluir que estamos diante de grandes fortunas administradas e geridas por mulheres que ainda não recebem a devida atenção e reconhecimento pela relevância econômica na economia brasileira, muitas vezes sendo desprezadas pelos bancos e instituições financeiras que atuam em Wealth Management, a gestão de patrimônio”, esclarece Débora Toledo.

Outra informação importante, segundo a especialista em economia, é que 34% das mulheres do agronegócio já possuíam famílias atuando nesse segmento. “Dessa maneira, cerca de 2,2% do PIB é gerido por herdeiras que em sua esmagadora maioria não tiveram infelizmente a oportunidade de se preparar para administrar a fortuna familiar”, completa Débora Toledo.

Segundo Vanessa Sabioni, apesar de estar em crescimento, atualmente poucas instituições financeiras reconhecem esse nicho inexplorável de mercado ávido por crédito e suporte na administração e gestão de fortunas.