China intensifica compras de soja 2020 do Brasil e fortalece prêmios da safra nova

No mês de agosto os prêmios da soja ampliaram sua participação na formação do preço da soja de algo entre 8 a 10% para 14% a 15%. A explicação vem do economista e analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais e também pudera! 

A posição de entrega agosto registrou do dia 1º ao dia 27 deste mês uma valorização de mais de 55%, passando de 90 cents para US$ 1,40 acima das cotações praticadas na Bolsa de Chicago. No mesmo intervalo, para outubro a alta foi de 42,11%, com o prêmio passando de 95 cents para US$ 1,35. Os valores consideram o porto de Paranaguá. 

A concentração da demanda chinesa no Brasil e mais um estreito saldo ainda disponível no país para atender as exportações e a demanda interna criam um cenário bastante consistente e importante de fortalecimento desses valores. E são eles que têm sido um dos principais combustíveis para um bom ritmo dos negócios por aqui.

No entanto, o mercado já começa a registrar operações melhores e um pouco mais aquecidas para a soja da safra nova do Brasil. Os prêmios que variam ainda entre 45 e 50 cents sobre Chicago se mostram bastante atrativos para os importadores, principalmente os chineses, os quais agora enfrentam uma taxação sobre a soja dos Estados Unidos de 30% enquanto a guerra comercial continua. 

“É óbvio que ainda há uma diferença brutal entre os prêmios para o produto disponível e safra nova, por isso que também há uma diferença de preço bastante substantiva entre safra velha e safra nova. O que segue muito atrativo para os compradores. Por isso esta semana temos tido uma presença maior de negócios da safra nova, a China veio mais forte comprando”, diz Motter.

Agora, ainda segundo o analista, o determinante será acompanhar de perto os desdobramentos da guerra comercial. Os governos de Donald Trump e Xi Jinping ainda não se acertaram, um acordo parece bem distante entre os dois, porém, ambos buscam continuar sinalizando que têm tentado manter boas relações e a tentativa de um consenso. 

A movimentação dos chineses para garantirem seus estoques de soja para o próximo ano buscando matéria-prima aqui na América do Sul foi destaque também na agência internacional de notícias Bloomberg. Uma fonte ligada ao comércio da oleaginosa afirmou que os compradores da nação asiática se posicionaram de forma bem mais agressiva nestes últimos dias negociando cargas para embarque entre fevereiro e março. 

Especialistas ouvidos pela Bloomberg afirmam que a China comprando na América do Sul não é novidade, porém, a notícia mais importante é o movimento de travar vendas por aqui neste período, tão cedo antes da nova safra brasileira. O vazio sanitário no país termina em 10 de setembro no Paraná e assim segue, nas semanas seguintes, para os demais estados. Assim, o maior comprador mundial está de olho em grãos que ainda nem começaram a ser plantados temendo que a guerra comercial continue e tenha duração indeterminada. 

Na semana passada, as tensões entre China e Estados Unidos passaram por uma nova rodada de intensificação e derrubaram as cotações na Bolsa de Chicago. Mais do que isso, distanciaram ainda mais possíveis compras do país asiático no mercado norte-americano. Assim, a demanda se concentra cada vez mais no produto brasileiro. 

No entanto, ainda de acordo com as fontes ouvidas pela Bloomberg, a China não pretende cancelar os volumes de soja já comprados nos EUA. Das 14 milhões de toneladas adquiridas nesta temporada, afinal, faltariam somente 2 milhões de toneladas ainda a serem embarcadas.

“Estamos vivendo um momento de muita instabilidade, de vários fatores influenciando os preços ao redor do mundo e não se tem um direcionamento correto. Sabemos que eles terão um peso forte na formação do preço, mas não sabemos para que direção isso vai”, explica Camilo Motter. “Se houver um acordo entre China e EUA, obviamente teremos uma influência muito negativa na formação dos prêmios e também, por extensão, dos preços. Basta se observar onde eles irão comprar soja com mais intensidade”, completa. 

E com essa intensa volatilidade, a orientação do analista é de que os vendedores sigam acompanhando o dia a dia agitado dos mercados para que possam aproveitar todas as oportunidades que possam vir a surgir não só com a força da demanda e o avanço dos prêmios, mas também ainda se valendo do bom momento do câmbio para novas vendas.

“É mais do que nunca bem recomendado participação nestes momentos bons e importantes. Mas não descarto nenhuma das hipóteses, nem para cima, nem para baixo. Ao mesmo tempo, vejo fundamentos bastante sólidos para o mercado ganhar uma musculatura melhor daqui para frente, tanto na soja quanto no milho no mercado internacional”, diz o analista da Granoeste.