Estiagem no Sul: veja o que secretários da Agricultura propõem para amenizar a crise

O Canal Rural News desta quarta-feira debateu o forte impacto da estiagem sobre o agronegócio na região Sul. Apresentado por Antônio Petrin, o bate-papo contou com a participação dos secretários de Agricultura dos três estados da região: Ricardo Gouvêa (SC), Covatti Filho (RS) e Norberto Ortigara (PR).

A situação é dramática principalmente para a cultura do milho, que em algumas fazendas já apresenta quebra de 87% e os impactos já são sentidos na cadeia de proteína, com a falta de ração e até água para os animais.

De acordo com Norberto Ortigara, a situação no Paraná é dramática. “Temos drama e complicações relevantes para a nossa agricultura, o que é ruim pois se soma à pandemia. Vale lembrar que essa estiagem começou em julho do ano passado, então já são 1 ano e 4 meses com déficit hídrico”, disse.

Em Santa Catarina, segundo Ricardo Gouvêa, a situação não tem sido fácil ao longo do ano, que já teve a incidência de um ciclone bomba e até um tornado. Agora, o que preocupa mesmo é a falta de água nas propriedades rurais.

“Vivemos um sistema climático que não se ouviu falar de ter tido antes. Temos déficit de chuva de 700 a 800 milímetros, que não se recupera tão fácil. Não há previsão de chuvas para minimizar impactos no meio-oeste, oeste e extremo oeste do estado, onde está sendo mais afetado”, disse.

Já o secretário do Rio Grande do Sul, Covatti Filho, está em Brasília onde participou de uma reunião com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que tem como objetivo mudar regras de financiamento para que produtores de milho possam refazer o plantio.

“Na região noroeste temos até 70% de quebra nas lavouras e temos produtores bem desesperados. Cerca de 40% da produção de milho do estado vem de lá e as empresas já estão tendo que comprar milhos do Centro-Oeste com preços bem elevados, o que encarece demais a produção da pecuária”, disse.

Preocupação com a pecuária

O oeste de Santa Catarina é um dos principais polos produtores de carne de aves, suínos e também de leite no Brasil. Relatos apontam para que essa seja a pior estiagem dos últimos 20 anos e o plano de ação neste momento é para fornecer água de qualidade para garantir a alimentação desses animais.

“O que estamos tentando fazer com colegas da Defesa Civil e prefeituras é fornecer água e recursos para prefeituras para oferecerem água para as propriedades. Estamos na luta para evitar que ocorram situações como já ouvimos relatos, de abate de vacas de leite e fechamento de aviários. É lamentável, muito ruim o que tá se vendo no estado, pois são locais que os rios secaram”, disse o secretário de Agricultura de Santa Catarina, Ricardo Gouvêa.

Segundo ele, não se pode sair apenas furando poços pois a água que os animais precisam para manter a sanidade é uma água de qualidade. E foi por causa disso que a opção escolhida foi pelos caminhões pipas.

Seca força produtores a abater vacas leiteiras em Santa Catarina

“Na produção de aves e suínos temos uma produção integrada muito forte. A agroindústria garante pelo menos a alimentação, diferente do setor leiteiro e alguns produtores independentes de suínos. Esses nem conseguem oferecer alimentos aos animais. Esses produtores integrados estão tendo suporte”, completou.

Segundo o secretário, a estratégia do estado é de trabalhar em conjunto com a agroindústria para poder minimizar os problemas provocados pela falta de água generalizada.

Soja atrasada no Paraná

Para os paranaenses, a preocupação é com a soja e com a janela para o plantio do milho. O plantio no oeste do estado atrasou cerca de 25 dias e, mesmo assim, a falta de água tem preocupado.

“Defendemos plantio direto de qualidade, cobertura permanente e rotação de cultura. Mesmo com todos esses cuidados, temos insucesso pois falta água no sistema. O sistema é bom, mas falta água e vamos penar um pouco. Eu consegui colocar em dia a minha semeadura, estou com 97% divulgado hoje para o Deral, acompanhando os anos de 2019, 2018, 2017 e 2016. Só não está cem dia com 2015, que nessa época estava com 91%”, disse Origara.

A questão crucial, segundo ele, é que o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) do milho safrinha foi empurrado também. “Vamos semear, como? Sem cobertura de seguro, por exemplo. Pois não se pode mudar as regras de zoneamento apenas por conveniência. Tentamos ajustar o zoneamento, fazendo uma meia sola de cobertura, para viabilizar o cultivo da safrinha que é importante para o Brasil”, completou.

A expectativa é que a safrinha do milho voltasse a crescer no estado, mas com as atuais projeções o que se espera é uma estabilidade. Sobre a soja, o secretário afirma que 28% está em condição crítica/ruim ou crítica/mediana, que pode perder o potencial da semente. “Teremos perda de produção, sim, tanto no milho como na soja do Paraná”.

Ajuda federal

Covatti Filho, do Rio Grande do Sul, acredita na chuva que vai cair no estado nos próximos dias, mas não deixa de negociar um socorro federal para os produtores de milho da região, já que as perspectivas para a soja são boas.

“O milho enfrenta uma dificuldade gigantesca por causa da proteína animal. O Rio Grande do Sul sempre produziu uma safra cheia por volta de 5 milhões de toneladas de milho, mas a demanda era sempre de 7 ou 8 milhões de toneladas. Com a estiagem, piorou tudo”, disse.

Segundo ele, foram entregues demandas para a ministra Tereza Cristina para resolver algumas situações que acabam sendo barradas pela legislação, como a permissão da implantação de outras culturas financiadas em uma mesma gleba já contemplada.

“Com isso o produtor poderia derrubar o milho e colocar soja dentro do zoneamento, mas é uma questão que é difícil por causa dessas normas. Mas estamos fazendo reuniões técnicas para achar uma saída para tentar construir”, disse.

Outra demanda é a burocracia para conseguir milho via Companhia Nacional de Abastecimento, que pode demorar até 40 dias.

Essa preocupação com o fornecimento de milho pela Conab também está presente em Santa Catarina. “Acreditamos que a Conab não vai entrar para comprar esse milho e aumentar seus estoques, pois a regra para essa compra é quando o preço está baixo e não é esse caso”, disse Gouvêa.

O secretário catarinense ainda reclama de uma falta de política pública de Defesa Civil para a área rural. “Esse valor que estamos pedindo seja para furar poço ou fornecer água é fornecido pela Defesa Civil com recursos estaduais ou federal nas áreas urbanas. Precisamos falar com o governo federal sobre esse assunto, uma polícia nacional para a área rural, levando água para animais e pessoas”, completou.

Como evitar novas crises

Para o secretário catarinense, é preciso pensar a longo prazo e criar políticas que, por exemplo, forneçam subsídios para quem tem açude, cria cisterna ou consegue manter uma nascente. “Precisamos fazer algo para armazenar e saber usar essa água”.

Norberto Ortigara, do Paraná, diz que o Estado vai investir em irrigação. “Nosso governador nos autorizou a gastar verba para ajudar a produzir água, proteção de nascentes, cisternas para aviários e tanques com película. Vamos iniciar em dezembro o processo de apoio à irrigação pelo qual qualquer agricultor pagará juro zero em seu processo e tentativa de reduzir o uso da água”, contou.