2022 deve ser marcado por safra recorde e custos de produção elevados

Os insumos devem tornar os custos de produção de 2022 um dos mais altos da história

A previsão para 2022 é uma safra de grãos recorde, atingindo 289 milhões de toneladas, 14% a mais que a safra deste ano, conforme a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No entanto, o custo de produção deve ser um dos mais altos da história devido ao cenário de permanência de alta dos custos com os insumos.

Neste ano de 2021, o produtor rural já conviveu com o aumento de mais de 100% nos custos com fertilizantes e defensivos para culturas como soja e milho e a tendência para o próximo ano é de que este quadro se mantenha.

As estimativas foram divulgadas nesta quarta (8), durante a entrevista coletiva de final de ano da CNA para apresentar o balanço de 2021 e as perspectivas para 2022 do setor agropecuário.

Na abertura do evento, o presidente da CNA, João Martins, avaliou que, apesar de 2021 não ter sido um ano como o setor esperava, foi positivo. “Tivemos problemas climáticos em quase todas as regiões do País. Isso fez com que tivéssemos uma frustração na safra. Houve alta no preço dos alimentos em todo o mundo, mas não deixamos de produzir e colocar na mesa do brasileiro o essencial que é o alimento,” disse.

A entidade também prevê que, mesmo com a elevação dos preços e o aumento de produção de algumas culturas, a alta dos custos de produção deve achatar a margem de lucro do produtor rural de maneira geral.

O diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, abordou o encarecimento dos financiamentos em 2022, por causa dos juros altos. “A Selic vai continuar alta em 2022, em 11,25%, e isso traz uma preocupação muito grande para o setor em função principalmente do crédito rural oficial que tem uma parte indexada na Selic. Então já imaginamos um cenário mais complicado para tomada de crédito para o produtor”, afirmou Lucchi.

Insumos

Neste contexto, de acordo com a CNA, alguns fatores devem determinar o comportamento da safra 2021/2022 no Brasil e precisam ser acompanhados de perto no próximo ano. Entre eles está a questão da logística, o fenômeno climático La Niña e o abastecimento de insumos. Quanto ao último item, boa parte da matéria-prima dos fertilizantes é importada, o que impacta os custos de produção.

“Teremos uma safra maior que a atual em função do clima melhor, mesmo com a possibilidade do La Niña e do risco da menor utilização de fertilizantes pelo produtor”, ressaltou Lucchi.

Os insumos serão um desafio para o produtor em relação ao custo de produção para a próxima safra. “Há problemas de produção em alguns países em função da questão energética, combustíveis, logística internacional e doméstica, taxações, câmbio. Então não é apenas um fator a ser resolvido. No entanto, o risco de faltar fertilizantes para a próxima safra é muito baixo, apesar do preço para os produtores estar muito mais elevado”.

Economia

Algumas incertezas no cenário econômico no próximo ano devem influenciar o agronegócio. Desta forma, a expectativa para 2022 é de um crescimento em ritmo menor do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, entre 3% e 5% em relação ao ano atual, segundo a CNA e o Centro de Estudos Avançados em economia Aplicada (Cepea). Em 2021, o PIB do agronegócio deve fechar o ano com expansão de 9,37% em relação a 2020.

Para o Valor Bruto da Produção (VBP), que mede o faturamento da atividade “da porteira para dentro” na agricultura e na pecuária, a expectativa da CNA é que a elevação de receita ocorra em menor ritmo frente a anos anteriores. O VBP deve ser de R$ 1,25 trilhão em 2022, crescimento de 4,2% em relação a 2021. Culturas como café, milho e trigo devem ter produções maiores e cana-de-açúcar, café e algodão deve ter elevação nos preços. Por outro lado, soja, carne bovina e arroz devem sofrer quedas no VBP no próximo ano.

Comércio exterior

As exportações do agronegócio bateram recorde no acumulado de 2021 de janeiro a novembro, atingindo o valor de US$ 110,7 bilhões. Na comparação com o mesmo período de 2020, o crescimento foi de 18,4%. “A cada 10 dólares em vendas ao exterior, quatro eram produtos do agro, além de exportarmos para mais de 190 países. Tivemos um aumento em quase todas as cadeias, sendo a soja em grãos o produto mais exportado e a China sendo o principal destino”, destacou Lígia Dutra, diretora de Relações Internacionais da CNA.

Houve a abertura de mercado para 69 produtos do agronegócio em 30 países diferentes, como bovinos para o Vietnã e carne bovina e material genético bovino para o Iêmen. Além disso, houve incremento nas vendas para o Chile por meio dos acordos comerciais. “O Brasil precisa correr atrás dos acordos internacionais porque tem impacto direto nas nossas exportações. Tanto acordos que negociem tarifas quanto questões não tarifárias”, defende Lígia.

Neste ano, os principais produtos do agronegócio brasileiro exportados foram soja em grãos, carne bovina in natura, açúcar de cana em bruto, farelo de soja e carne de frango in natura. Os principais destinos foram China, União Europeia, Estados Unidos, Tailândia e Japão. Juntos, esses cinco mercados responderam por 62% dos consumidores que adquiriram os itens brasileiros. O país onde foi registrada a maior expansão das vendas externas em 2021 foi o Irã (71,3%), com receita de US$ 734 milhões.

Para 2022, alguns fatores internacionais devem ser monitorados, como o comportamento da Covid-19, os gargalos do transporte marítimo, a oferta global de insumos, a pauta ambiental e o comércio internacional. A entidade também prevê que a China deve se manter como o principal parceiro comercial do Brasil para os produtos do agro.

CNA

A Confederação afirma que vai intensificar seus projetos de atuação em busca de mais mercados para os produtos do agro. Entre as iniciativas previstas, estão a abertura de um terceiro escritório no exterior, em Dubai, e a retomada do programa AgroBrazil, que leva representações estrangeiras para conhecer as principais regiões produtoras no país. A CNA já conta com escritórios em Xangai e Singapura.

Já em 2021, a entidade destaca alguns objetivos alcançados, como a inscrição de mil empresas no Projeto Agro.BR. A iniciativa é desenvolvida com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) para inserir cada vez mais pequenos e médios produtores no comércio exterior e diversificar a pauta brasileira de exportações de produtos do setor.