Uso do biocarvão como fertilizante tem origem indígena

Buscar soluções para reduzir a dependência do Brasil por fertilizantes importados é hoje uma das prioridades da pesquisa agropecuária

Uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Rondônia (RO), em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o Instituto Federal de Rondônia (IFRO) e a Universidade de Santiago de Compostela (USC), da Espanha, criou uma maneira mais simples para obter o biocarvão (biochar).

A origem 

Em entrevista ao Planeta Campo, o pesquisador da Embrapa, Paulo Wadt, contou que essa prática antigamente era chamada de “Terra Preta de Índio”. Porque era o método que os índios pré-colombianos, antes da chegada dos espanhóis e dos portugueses na América, já praticavam na agricultura. 

A ciência, embora conheça a montagem desse solo, nunca antes havia conseguido entender como ele era produzido. O grupo de pesquisa repensou as tecnologias que existiam na época e reproduziu essa tecnologia em laboratório.

Benefícios

O estudo apontou um potencial de ganhos ambientais para o solo, a partir da utilização do composto organomineral como veículo para aplicação de fertilizantes.

“A maior parte dos nutrientes que nós jogamos hoje na cultura agrícola serão perdidos. Por exemplo, o fósforo chega a perder 80%. Esse produto retém melhor. O fósforo faz uma liberação mais lenta e reduz as perdas melhorando a eficiência”, diz Wadt.

Qual cultura pode usar

O biochar pode ser utilizado em qualquer tipo de cultura, a depender da capacidade de produção. “Se você pensar na cultura de grãos, as áreas podem ser muito grandes, então talvez pudesse aplicar somente na Sul”, indica o pesquisador. 

Existem exemplos de sucesso do uso do composto em frutíferas e jardinagem, por exemplo. “Os índios usavam isso pra fazer todos os tipos de cultivo e nós também podemos utilizar.  Notamos a vantagem, ainda, em reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Quando nós fazemos pirolise do carvão isso pode ficar por dezenas de anos na terra”, conta Wadt. 

Menor dependência do exterior

O uso do composto contribui de duas formas distintas para diminuir a dependência brasileira de insumos via exportação:

1°:  ao melhorar deficiência do nutriente de fertilizantes já aplicado, é necessário aplicação de uma quantidade menor, com o mesmo resultado. Ou seja, há redução da demanda quando é feita aplicação junto com biochar.

2º: A outra possibilidade é que esse material orgânico também tenha nutrientes, então ele acaba liberando esses compostos. Nisso, há uma reciclagem de parte do resíduo produzindo nutrientes e melhorando a eficiência dos nutrientes convencionais.