Alternativa para alimentação, jaca ganha espaço no agronegócio paranaense

O Paraná tem jaca, e jaca em abundância, como revela um simples passeio pelas ruas de Altônia, na Região Noroeste. Espalhados em algumas vias urbanas ou agrupados em fazendas na zona rural, os pés ocupam cerca de 15 hectares no município. São responsáveis por fazer da cidade de pouco mais de 22 mil habitantes a maior produtora da fruta no Paraná. Foram 10 toneladas em 2019, de acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento,

Espalhados em algumas vias urbanas ou agrupados em fazendas na zona rural, os pés ocupam cerca de 15 hectares no município. São responsáveis por fazer da cidade de pouco mais de 22 mil habitantes a maior produtora da fruta no Paraná.

Foram 10 toneladas em 2019, de acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, cinco vezes mais do que os vice-líderes Barbosa Ferraz, Esperança Nova e Umuarama.

O título informal de Capital da Jaca substituiu a fama do passado de Rainha do Café. As histórias das duas culturas estão entremeadas, como gostam de contar em prosa e verso os mais antigos na cidade.

As jaqueiras começaram a surgir em Altônia como forma de dar conforto para os agricultores que passavam o dia na colheita de café. As árvores, conta o técnico em agropecuária da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Agricultura e Turismo, Paulo Cezar Lavaqui, eram plantadas à beira dos corredores nos cafezais para fazer sombra para os trabalhadores. Ali, embaixo do frondoso pé da fruta, podiam fazer as refeições e se refrescar escondidos do sol. Era o tal do sombra e água fresca.

As jaqueiras ainda serviam de quebra-vento para os pés de café, melhorando as condições da produção, o que agradava os “donos das terras”. “Assim a jaca entrou em Altônia, devagarinho, mas logo os proprietários das fazendas perceberam que poderiam ter lucro com a fruta”, diz o técnico.

 café morreu no município ainda na década de 1980 por doenças não controladas que acabaram com os pés. As jacas resistiram. Ficaram e agora dividem espaço com as culturas de limão, abacate e manga dentro de Altônia. Sempre no papel de coadjuvante. A eterna função de quebra-vento agora é feita para os pés de abacate.

CARNE DE JACA – O destino, contudo, parece começar a conspirar a favor da jaca. A fruta se transformou na queridinha de quem opta pela alimentação vegana/vegetariana, substituindo a carne. A expressão “carne de jaca” está em alta. E as receitas só evoluem. Tem coxinha de jaca, presunto, fricassê, risoto… A tradicionalíssima Vaca Atolada, por exemplo, tem a versão Jaca Atolada. E por aí vai.

É justamente esse filão da alimentação saudável que fez com que a cultura conseguisse ainda mais espaço na fazenda do produtor Ricardo Casemiro dos Santos. Ele percorre semanalmente os 640 quilômetros que separam Altônia de Curitiba para entregar jaca no Ceasa da Capital.

São 500 quilos por semana, parte considerável das cerca de 2 mil frutas (30 mil quilos) do município que abastecem o mercado paranaense – além de Curitiba, Guarapuava e Foz do Iguaçu são os outros principais compradores. No Ceasa a jaca de Altônia some rapidinho, ganhando o Brasil.

“Está na moda porque se tornou uma alternativa interessante e saudável à carne”, conta o agricultor, que se divide também entre as colheitas de abacate, limão e manga. “Sem contar que dá para comer in natura, fazer doces…”

Devaldir Antonio Vendramini é um antigo fã da jaca. Há 47 anos nas lavouras do Noroeste do Paraná, é personagem vivo do enredo histórico. Começou com café, plantou jaqueiras para ter sombra, e agora vê na fruta uma opção interessante para encorpar o faturamento com limão, abacate e laranja.

Segundo ele, um pé costuma levar entre cinco e seis anos para carregar. Mas a partir daí é só alegria. “Não demanda muitos cuidados e com uma árvore você consegue tirar até R$ 500 na colheita. Sem contar que pés com 40, 50 anos, continuam dando fruto”, afirma.