Aprosoja reduz safra do Brasil a 127 mi t, mas projeção ainda é recorde

A produção de soja do Brasil deve atingir 127 milhões de toneladas na safra 2020/21, estimou nesta terça-feira a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), com um corte de 2 milhões de toneladas em sua perspectiva motivado por queda na produtividade após episódios de seca em diversas regiões.

Se confirmado, o volume ainda representaria um recorde considerando a série histórica da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), superando também as 124,8 milhões de toneladas da temporada anterior.

Mas ficaria bem abaixo do potencial e das quase 132 milhões de toneladas apuradas em uma pesquisa da Reuters no começo do mês. No início da safra, a Aprosoja Brasil chegou a prever 134,5 milhões de toneladas para a produção.

O atraso no plantio e a ausência de chuvas regulares nos últimos meses foram comprometendo parte dos rendimentos das lavouras, disse à Reuters o presidente da entidade, Bartolomeu Braz Pereira.

“Não temos nada definido… se não melhorar a chuva, atingindo todas as áreas, possivelmente podemos ter mais cortes na expectativa de produção”, alertou. “É uma safra que ainda está indecisa”.

Ele disse que as precipitações retornaram, permitindo a semeadura das áreas, mas elas ainda foram isoladas e abaixo da intensidade ideal. “Não foram o que a gente chama de chuvas gerais”, explicou.

Estados como Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e a região do Triângulo Mineiro foram algumas das áreas mais afetadas pela seca, assim como o Sul do Brasil, destacou Pereira.

Somente o Matopiba –composto por Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia–, que normalmente planta a oleaginosa mais tarde, registrou menos atraso no início da safra, sem grandes problemas climáticos, segundo Pereira.

Neste contexto, o índice de replantio estimado pela Aprosoja é de 3% das lavouras, o que representa um número “muito alto” para uma área de 38 milhões de hectares, bem acima do registrado em anos anteriores, disse o presidente da Aprosoja.

Ele ainda disse que o início da colheita está previsto para o fim de janeiro, com intensificação entre fevereiro e março. Na temporada anterior, os trabalhos começaram por volta do dia 15 de janeiro.

ABAIXO DO IDEAL

O desempenho das lavouras do Sul, onde estão os dois maiores produtores de soja do país depois de Mato Grosso (Paraná e Rio Grande do Sul), também não deve ser dos melhores da história. Mas, de acordo com entidades ligadas aos agricultores, há indicações ainda de uma safra volumosa.

“Temos expectativa de ter uma boa safra –não vou dizer uma safra excepcional– porque ainda plantamos dentro do zoneamento. Se tivermos uma normalidade de clima… então podemos sim ter uma boa safra”, disse o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Paulo Pires, ressaltando que as chuvas em dezembro têm sido mais abundantes que em novembro.

Ele disse ainda que o Estado até teve um aumento de área adicional, após algumas lavouras de milho perdidas pela seca terem sido convertidas em soja.

“O Rio Grande do Sul precisa de uma safra boa, durante todo o episódio de bons preços, o Rio Grande do Sul não teve uma safra cheia, soja quebrou (em 2019/20), trigo e milho quebraram. Resta esperança de ser uma safra normal de soja.”

O gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, afirmou que o clima não têm sido o ideal, mas que as chuvas recentes atingiram a maior parte do Estado, após um período de tempo seco.

“Tem mais ou menos 5% das lavouras que estão em situação ruim, com ‘stand’ baixo, com irregularidades no crescimento e até com deficiência de potencial produtivo. Temos no Paraná 20 milhões de toneladas, 5% daria algo em torno de 1 milhão de toneladas de perdas… na pior das hipóteses… Mas não dá pra dizer que vai perder tudo nesses 5%”, explicou Turra.

Ele também ressaltou que em termos de preço ainda será uma safra positiva para o Brasil, com valores próximos a 130 reais por saca. “Isso é um preço que, mesmo com 5% de quebra, ainda vai dar margem boa para o produtor”, avaliou.

CHUVA DE VERÃO

O agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima, afirmou que mesmo diante deste cenário ainda é possível ter uma “baita safra” de soja, perto de 130 milhões de toneladas.

“(Com o) fato de a La Niña estar perdendo forças, a tendência é que o verão venha a ser mais chuvoso no Sul do Brasil e em especial sobre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Se isso se confirmar, poderemos sim ter uma safra cheia”, disse.

O meteorologista da Somar Celso Oliveira afirmou que a atual condição climática é mais chuvosa no Sudeste e Centro-Oeste do país. Parte dessas precipitações também alcançam o Matopiba, o que traz um “alívio” aos produtores.

“Por enquanto, não há uma expectativa de ausência prolongada de chuvas… Podemos começar a ver problema no Rio Grande do Sul somente em janeiro, durante o enchimento de grão, mas por enquanto as coisas caminham bem”, disse Oliveira.