‘Boi Safrinha’: Integração Lavoura-Pecuária aumenta lucros no campo

Graças à adoção do semiconfinamento em sistema ILP e apoio da Emater-DF, o lucro do produtor rural no Distrito Federal é estimado em quase oito vezes o rendimento da poupança; por animal, pode chegar a 300 reais

No sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP), o uso da terra é alternado no tempo e espaço, entre a lavoura e a pecuária. Na propriedade do produtor rural Guilherme Nepomuceno Filho, em Tabatinga (Planaltina-DF), um trabalho multidisciplinar da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) – composto por agrônomos, médico veterinário e zootecnista –, obteve lucro líquido de 4% ao mês na atividade de terminação de bovinos de corte.

Isso foi possível graças à adoção do semiconfinamento em sistema ILP. Como comparação, o lucro foi estimado em quase oito vezes o rendimento da caderneta de poupança. E por animal, esse lucro estimado foi de aproximadamente 300 reais.

Chamada de “Boi Safrinha”, a técnica envolve a alimentação de bovinos na entressafra, aproveitando o resto da forragem acumulada em consórcio com milho ou soja e plantas forrageiras como a Brachiaria Ruzizienses, após a safra dos grãos.

Esse trabalho tem como objetivo otimizar o uso da terra, visando atingir patamares cada vez mais elevados de qualidade dos produtos, bem como a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

Janela de produção

Extensionistas avaliam potencial forrageiro: “Boi Safrinha” é uma técnica que envolve a alimentação de bovinos na entressafra, aproveitando o resto da forragem acumulada em consórcio com milho ou soja e plantas forrageiras. Foto: divulgação Emater-DF

Após a colheita dos grãos a terra fica ociosa, em pousio, esperando a próxima chuva para um novo plantio de safra.

Nessa janela de 70 a 80 dias, que no Distrito Federal ocorre entre os meses de julho e outubro, a Emater-DF fez um planejamento para a engorda do gado em sistema de semiconfinamento.O produtor demonstrou interesse na proposta de adotar a Integração Lavoura-Pecuária e a Emater-DF foi visitar a propriedade e fez um plano de trabalho.

“Durante o período do projeto, visitas periódicas avaliaram o andamento, a saúde dos animais, o manejo, peso e outros aspectos”, explica a médica veterinária da Emater-DF em Tabatinga, Adriana Lelis, pós-graduada em Ciência e Tecnologia de Alimentos, na área de Concentração em Tecnologia e Processamento de Carnes.

Na entressafra, durante a engorda, os animais se alimentaram com ração elaborada com os grãos cultivados na propriedade, adicionando um núcleo mineral vitamínico e ureia para mistura, além de, na área de pastejo, consumirem volumoso composto pelos restos do plantio de grãos e a forragem, que é usada posteriormente como cobertura de solo para o plantio direto na palha.

Período da seca

Zootecnista Maximiliano Cardoso (segundo da esquerda para direita) orienta produtores. Foto: Divulgação Emater-DF

O zootecnista Maximiliano Cardoso explica que, no período da seca, em um manejo convencional, o gado mantém o peso ou tem um ganho pequeno, por volta de 100 a 150 gramas por dia, com o uso de  suplementação proteica.

“Com nosso planejamento e acompanhamento zootécnico, no sistema de semiconfinamento, conseguimos um ganho de 900 gramas por dia, atendendo ao que foi planejado para 70 dias. Esse sistema barateia o custo da arroba produzida na entressafra e o produtor aproveita áreas que ficam ociosas com ‘Boi Safrinha’”, conta Cardoso.

O agricultor Guilherme Nepomuceno Filho elogiou o trabalho da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal, afirmando que houve redução de custo na criação. “A assistência e o acompanhamento da Emater-DF foram muito bom. Tivemos uma resposta boa, dentro do esperado”, conta.

Adriana ressalta que o trabalho pode ser replicado em outras regiões produtoras de grãos como PAD-DF e Rio Preto. “É possível a Emater contribuir para profissionalização da pecuária de corte junto a esses produtores”, diz.

Benefícios para o produtor

Conforme Cardoso, esse sistema de produção integrado consiste na implantação de diferentes sistemas produtivos de grãos, fibras, carne, leite, agroenergia e outros, na mesma área, em plantio consorciado, sequencial ou em rotação.

Os principais benefícios são melhoria das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo; redução da pressão de doenças, insetos-praga e plantas daninhas; maior produtividade dos componentes (planta e animal) e redução de riscos, de produção e financeiro, pela diversificação de atividades.