Comentando a produção brasileira de soja

A frustração do Brasil aumenta com a não realização do sonho de superar a safra norteamericana, expectativa justificada pela maior área cultivada com a oleaginosa pelo Brasil

Eram positivas as perspectivas do Brasil para a produção de soja em 2019, dada a expectativa da ocorrência do El Niño, fenômeno que promove maior volume e melhor distribuição das chuvas ao longo da safra, sobretudo nas Regiões Sul e Sudeste. Infelizmente, as chuvas não vieram como o esperado e a expectativa de superar a safra recorde colhida pelo Brasil em 2018 (119 milhões de toneladas – Mt) não se realizou, apesar do aumento da área cultivada em 1,8 milhões de hectares (Mha), segundo o CEPEA.

A frustração do Brasil aumenta com a não realização do sonho de superar a safra norte americana, expectativa justificada pela maior área cultivada com a oleaginosa pelo Brasil. A diferença na produção ficou por conta da maior produtividade dos norte americanos (3.503 kg/ha contra 3.344 kg/ha do Brasil).

O clima nos surpreendeu negativamente em 2019 e o reflexo na produção deverá ser significativo ante a safra de 2017/18, podendo chegar a 14 Mt, a depender da fonte. As perdas mais significativas ocorreram no oeste do PR e sul do MS, em lavouras estabelecidas no início de Setembro. Várias consultorias haviam estimado a atual safra de soja variando desde 117 Mt (Conab) até 130 Mt (Céleres), em área aproximada de 36 Mha. Mas, as previsões mais recentes (meados de fevereiro) da própria Conab situa a colheita em 115,34 Mt e a Agência Rural estima que poderá ser ainda menor: 112,5 Mt.

O Brasil é um gigante na produção agrícola mundial. Figura como terceiro maior exportador agrícola – atrás apenas, de EUA e União Europeia. Contribuiu com 7,2% das exportações agrícolas mundiais em 2018, montante que representou 42% do total exportado pelo País, que teve como principais destinos a China (29%), União Europeia (17,2%) e EUA (6,7%).

Segundo o MDIC, o valor bruto da produção agropecuária (VBP) do Brasil em 2018 foi recorde (RS$ 574 bilhões), assim como recordes também foram as exportações do agronegócio na temporada (US$ 102 bilhões), gerando um superávit, também recorde, de US$ 93,3 bilhões; US$ 41 bilhões provenientes da comercialização do complexo soja, cuja participação no bolo foi de 40,3%, seguido de longe pelas carnes (14,2%), produtos florestais (14,1%), complexo sucroalcooleiro (7%) e cereais (5%) – milho, principalmente.

Tudo o que o produtor não desejaria acontecesse neste ano, é que a alta verificada nos custos da produção agrícola em 2018, associada à quebra da safra atual de soja, venham acompanhados de queda nos preços de mercado, consequência das safras recordes de soja nos EUA (125 Mt) e na Argentina (54 Mt), do reestabelecimento de relações comerciais dos EUA com a China e de queda na cotação do dólar.