Empresa lança semente de soja que promete ser 30% mais resistente à seca

No mesmo ano em que a estiagem quebrou cerca de 16% da produção de soja no Rio Grande do Sul, agricultores que foram à Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque, conheceram uma nova ferramenta de combate à seca: a soja transgênica que promete ser 30% mais resistente ao estresse hídrico do que as demais cultivares disponíveis no mercado.

“A seca deste ano foi um dos principais motivos da gente trazer essa semente para a Expodireto, porque seria uma tecnologia que ajudaria num ano como esse”, afirma Francisco Soares, presidente da TMG.

A empresa é a responsável por conduzir os testes da semente no Brasil e deve iniciar a comercialização da tecnologia em 2021, a depender da velocidade de liberação na China.

“É um processo que está bem avançado, mas, com o coronavírus, não se sabe em qual ritmo está andando. De qualquer forma, a expectativa inicial é de que a aprovação ocorra entre o final deste ano e meados do ano que vem”, prevê Carlos Camargo de Colon, diretor da Bioceres.

A empresa argentina é detentora da patente da tecnologia e já testa sua aplicação também em sementes de trigo. “No Brasil, estamos no processo de obter a aprovação para o consumo [do trigo resistente ao estresse hídrico], mas mais atrasado do que a soja, que foi o carro chefe nas pesquisas”, explica Colon.

Pesquisa

As pesquisas para o desenvolvimento da nova cultivar começaram ainda na década de 1990, na Argentina. Colon afirma que o investimento da Bioceres no desenvolvimento da soja resistente ao estresse hídrico foi de menos de US$ 30 milhões, valor considerado baixo quando comparado a outros produtos já lançados no mercado.

Segundo ele, a economia no processo de desenvolvimento da nova tecnologia foi possível graças ao modelo adotado pela companhia, que privilegia parceria com universidades e institutos de pesquisa locais.

Transgenia com girassol

O segredo para a maior resistência à seca está na transferência de um gene do girassol para a soja e outras culturas. A transgenia confere à soja insensibilidade à síntese e à ação do etileno – substância responsável pela maturação e senescência da planta.

Ainda em fase de testes, as primeiras lavouras com aplicação da nova tecnologia já apresentam sinais visuais de um melhor desempenho nesta estação mais seca no Rio Grande do Sul. “Visualmente já é possível dizer que tem diferença [em relação a outras cultivares], mas em peso de grãos não temos resultado porque não colhemos ainda”, pontua a pesquisadora.

Mais testes

Para os próximos meses, o objetivo da TMG é ampliar as áreas de teste no Brasil, com plantio no Paraná, Mato Grosso e Goiás (Rio Verde), além do próprio Rio Grande do Sul. A empresa avalia que cerca de 70% das área produtiva de soja no país necessite, em alguma medida, da nova tecnologia.

“Mesmo no MT, que é mais úmido do que no RS, há algumas áreas marginais com textura de solo mais leve, onde a umidade não segura tanto. Nesses locais, a acredito que essa nova tecnologia traga vantagem também”, ressalta o presidente da TMG.