G20 e a Soja Brasileira; há razões para preocupação?

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja Na reunião do G20 realizada em 2019 no Japão, a Primeira Ministra da Alemanha Ângela Merkel se juntou a Manoel Macron, Presidente da França, para criticar o Brasil, que, segundo eles, não cuida da sua imensa floresta, desmatando-a para incrementar a produção agrícola. É verdade que o Brasil tem…

Na reunião do G20 realizada em 2019 no Japão, a Primeira Ministra da Alemanha Ângela Merkel se juntou a Manoel Macron, Presidente da França, para criticar o Brasil, que, segundo eles, não cuida da sua imensa floresta, desmatando-a para incrementar a produção agrícola. É verdade que o Brasil tem desmatado a floresta amazônica, tendo seu auge nos anos de 1995 e 2004, anos em que os desmatamentos ultrapassaram os 28.000 km² cada, com objetivo de estabelecer pastagens destinadas, majoritariamente, à criação de bovinos.

Até a década de 1960, a floresta amazônica estava naturalmente protegida, porque não havia caminhos para acessá-la e desbravá-la facilmente. A partir de então, no entanto, rodovias rasgaram a Amazônia de norte a sul e de leste a oeste, facilitando o acesso dos produtores rurais à região, cuja população cresceu rapidamente, assim como o desmatamento. Atualmente são mais de 20 milhões os brasileiros que vivem na Amazônia.

A preocupação com o futuro da maior floresta do Planeta (700 milhões de hectares – Mha), a maior parte situada em território brasileiro, é justificável, pois ela é rica em biodiversidade, não apenas vegetal, mas, também, animal e de micro-organismos. Estudos indicam que existem mais espécies vegetais em 1,0 hectare de floresta amazônica, do que em todo o continente europeu, assim como, também, existem 30 vezes mais peixes nos rios amazônicos do que em toda a Europa.

Mas não são apenas os estrangeiros que se preocupam com o desmatamento da Amazônia. O Brasil também se preocupa e suas preocupações vão além dos potenciais danos causados aos recursos genéticos. Preocupa-se, especialmente, com a poluição dos gases de efeito estufa (GEE) oriundos das queimadas das árvores eventualmente derrubadas para ampliação do espaço agrícola. O estoque de carbono armazenado nessa floresta é estimado em mais de 100 bilhões de toneladas, cuja biomassa, se queimada, liberaria esse carbono na atmosfera na forma de CO2, o principal GEE.

O cultivo da soja tem sido considerado um potencial vetor de desmatamento da Amazônia embora apenas, aproximadamente, 50 mil hectares de floresta – de um total de 550 milhões de hectares localizados no Brasil – tenham sido adicionados ao cultivo da oleaginosa nos últimos 10 anos. Nada a ver com a gritaria que os europeus fazem sobre a realidade dos acontecimentos, o que poderia intuir que o que mais os preocupa não são as árvores derrubadas, mas a competição exercida pela eficiente produção gerada por essas novas áreas de cultivo.

Considerando as ameaças ao patrimônio genético e à poluição ambiental causada pelo desmatamento amazônico, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – ABIOVE e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais – ANEC e suas associadas – que juntas controlam mais de 90% do comercio brasileiro de soja – decidiram estabelecer um mecanismo para monitorar a produção de soja em áreas da Amazônia desmatadas depois de 2008. Nesse contexto, estabeleceu-se o mecanismo denominado de Moratória da Soja. Dado os termos desse acordo, as empresas signatárias se comprometeram a não comprar soja oriunda dessas áreas e o Banco do Brasil a não conceder financiamento para sua produção. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), através de imagens periódicas colhidas por satélite, identifica as lavouras de soja que infringem a moratória.

Os resultados desse monitoramento indicaram que foi pequena a área amazônica desmatada para o cultivo de soja após 2008 e que cerca de 90% dessa área teve como destino o cultivo de pastagens para alimentação do gado, cuja produção não é inibida pela moratória. Apesar das restrições impostas pelo pacto, na safra 2015/16 foram identificados 37.155 ha de soja cultivados em desacordo com a moratória.

Em 2018, antes de completar 10 anos de vigência, o pacto ambiental que era anual, foi renovado de forma permanente; sem data de vencimento. Os signatários reiteram os compromissos firmados em 2008, sinalizando para o novo governo brasileiro seus bons propósitos quanto à preservação da grande floresta. Inclusive, por excesso de zelo, os gestores da moratória têm bloqueado áreas desmatadas legalmente. Reconhecidamente, a moratória da soja ajudou o Brasil a conter a perda da sua maior riqueza vegetal.