Que está acontecendo com o crédito rural ?

A primeira metade do prazo do Plano-Safra 2019/20 registrou uma aplicação satisfatória dos recursos programados no Plano-Safra. A demanda correspondeu às expectativas, com pequenas modificações, segundo os dados divulgados pelo Bacen.

Estes foram os aspectos mais relevantes que aconteceram no segundo semestre do ano fiscal 2019 comparativamente ao mesmo período em 2018:

  1. O volume total de recursos controlados emprestados aumentou de R$ 101 bilhões para R$108 bilhões, ou seja 7% a mais sem descontar a inflação do semestre; 
  2. Os recursos chamados livres tiveram um crescimento proporcionalmente maior, isto é de 14%, acrescentando R$3 bilhões sobre o semestre anterior e chegando a R$26,3 bilhões. A expansão nas LCAs foi de apenas 3% e a fonte Poupança Livre mais que dobrou, com 110% de aumento; 
  3. A aplicação em Investimento cresceu 19%, enquanto no Custeio o índice foi de 5%. Isto induz à conclusão de que teria havido uma retomada na confiança para o futuro; 
  4. A prioridade governamental neste Plano-Safra foram o Pronaf e o Pronamp, e a resposta correspondeu. O Pronaf-Investimento aplicou 23% mais que o período anterior, e no Pronamp-Investimento o aumento foi de 37%; 
  5. O Moderfrota aplicou 1% menos, consumindo 45% dos R$9.690 milhões orçados para o ano-safra, contra 58% no mesmo período do ano passado. Porém, o Banco do Brasil aplicou R$832 milhões neste programa com recursos próprios, que somados aos de origem controlada, totalizam 5,3 bilhões, superando assim os R$4,4 bilhões do mesmo período do ano 2018. As tradicionais feiras agropecuárias do primeiro semestre deverão contar com novas injeções de recursos livres e não com acréscimo de recursos subsidiados no orçamento inicial.

Então está tudo bem no crédito rural? Não é bem assim.

Primeiro, nunca saberemos quanto deste bolo de recursos emprestando destinou-se a rolar financiamentos anteriores. E a burocracia infernal, os custos de emolumentos e a inoportuna data de lançamento do Plano-Safra no meio do ano continuam atrapalhando e aumentando ônus para o agricultor.

Outro aspecto que continua ruim é a diminuição do número de contratos, exceto no Pronamp cujo número cresceu 25% no Custeio e 37% no Investimento, alcançando 94 mil operações. Já no Pronaf Custeio o número caiu 2%, embora tenha subido 6% na modalidade Investimento. Por esse motivo, o governo realocou recursos e acrescentou R$1 bilhão para atender a expectativa de demanda no Pronaf na segunda metade do tempo do Plano-Safra.

A boa notícia é de que se confirmou a previsão de aumento na contratação de recursos do mercado privado. E a estrela dessas fontes foi a Poupança Livre, a qual mais que dobrou o volume aplicado em relação ao período anterior, saindo de R$1,5 bilhão para R$3,2 bilhões. 

As perspectivas de mercado para o ano agrícola estavam boas, porém podem surgir novidades negativas em decorrência da situação econômico-financeira mundial diante da possibilidade da epidemia do coronavirus, ou positivas se se lograr rápida aprovação da PLV 30/19 (ex-MP do Agro) que pode alavancar substanciais recursos externos para o agronegócio. 

De qualquer maneira, o crédito rural oficial não é mais o indispensável fator de irrigação da agricultura, mas continua importante, embora sua participação no total das necessidades de custeio de um ano-safra tenha continuado em nível de um terço do total.